Centenas de milhares de candidatos disputarão os cargos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador nas próximas eleições municipais. Teriam todos, realmente, vocação para a política? Entendamos o que é ter vocação. O termo vocação vem do latim, vocare, que quer dizer "chamado". Assim, a vocação é um chamado íntimo de amor. Amor e prazer por um fazer que dá alegria e satisfação. Profissionalmente, quem atende ao chamado íntimo certamente desempenhará suas atividades vocacionais com bom ânimo e disposição, não apenas pela sua remuneração, mas pelo prazer de fazer o que gosta. Ouvir esse chamamento seria o ideal para qualquer ser humano que desejasse ser útil à sociedade na qual vive. A excelência do seu trabalho por certo lhe traria, como conseqüência, uma recompensa financeira satisfatória, no entanto a realidade é bem diferente. Os filhos crescem ouvindo dizer que "alegria não enche barriga", "vocação nem sempre dá status", então o jovem precisa optar, pela "barriga cheia", nem que isso lhe custe a alegria de viver e a utilidade. Aí escolhe uma profissão que lhe traga vantagens financeiras e status em vez de ouvir o chamamento íntimo da sua vocação. Na vocação, a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão, o prazer se encontra não na ação, mas no ganho que dela deriva. O profissional, somente profissional, executa seu "fazer", não por amor a ele, mas por amor a algo fora dele: o salário, o ganho, o lucro, a vantagem. Já o homem movido pela vocação é um apaixonado pelo seu "fazer", e faz até de graça, apenas por satisfação. Na política é fácil constatar a diferença entre um político por vocação e outro por profissão. A vocação política é uma paixão por um jardim, já que "política" vem de polis, que quer dizer cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. Político é aquele que cuida desse espaço. A vocação política, assim, está a serviço da felicidade dos cidadãos, os moradores da cidade. Dessa forma, um político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que poderia plantar para si mesmo. O político é, antes de tudo, um jardineiro. O jardineiro por vocação dá sua vida pelo jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir o jardim privado, ainda que para isso aumentem, ao seu redor, o deserto e o sofrimento. Com este texto, quero convidar para reflexão cada um dos que pretendem disputar um cargo nas próximas eleições: Será que a sua vocação, antes da política, não é para ser médico, empresário, professor, dona de casa, religioso, etc? Será que, tendo vocação para política, a melhor área de atuação não seria no legislativo, por exemplo? "Consulte-se!" Mais sobre vocação: Existem médicos por vocação e profissionais da medicina. Os primeiros exercem as atividades com amor e prazer, sem necessidade de juramentos se dedicam a salvar vidas. Outros, mesmo sob juramento ,geralmente, só atendem mediante prévio pagamento. O que desejamos ressaltar é a necessidade de se ouvir e respeitar o chamado interior, a tendência íntima, a vocação. Isto não quer dizer que não se deva ter remuneração. O ganho, limpo, deve ser conseqüência natural de uma atividade prazerosa, até na política. Que nós outros, eleitores, sejamos inspirados e tenhamos sensibilidade na escolha dos nossos representantes. Que os próximos Prefeitos, Vice e Vereadores, saiam dentre os "vocacionados", "missionários", "jardineiros".