O governador Alcides Rodrigues (PP) mandou ontem uma resposta agressiva para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que fez crítica indireta ao governo estadual em Goiânia na semana passada. “Eu não quero fazer nenhuma avaliação de uma pessoa que nada fez para Goiás. Vem aqui da forma mais desrespeitosa e gratuita, indigna de um senador da República, ofender a pessoa do governador e indiretamente o povo de Goiás”, afirmou o governador, demonstrando irritação com as declarações do democrata.
A resposta de Alcides é mais um ataque em direção ao PSDB, a quem o governador não tem poupado alfinetadas nas últimas entrevistas, deixando claros os sinais de afastamento. Explica-se: Agripino veio a Goiânia para prestigiar homenagem que o senador e ex-governador Marconi Perillo (PSDB) recebeu na Assembléia Legislativa, na última quinta-feira.
Quebrando o protocolo, o próprio Marconi sugeriu ao presidente da Casa e autor da proposta de homenagem ao tucano, Jardel Sebba (PSDB), que abrisse espaço para discurso de Agripino. O democrata, que falou em nome dos senadores presentes, fez elogios a Marconi e acabou atingindo o governo Alcides.
Ele contou que decidiu conhecer Pirenópolis há cerca de um ano e, lá, questionou um morador sobre o atual governo. “A resposta eu não preciso revelar aqui. Mas, então, perguntei sobre Marconi. E o rapaz respondeu: ‘Esse é o homem. No tempo de Marconi as coisas aconteciam em Goiás’”, contou. O democrata disse que Goiás tem duas histórias: uma antes e outra depois do governo tucano. Disse ainda que Marconi é “homem de compromisso e palavra”.
O clima foi de constrangimento na Assembléia no momento em que Agripino contou a história de Pirenópolis. Até integrantes da bancada tucana disseram ter sido um comentário desnecessário. No dia seguinte ao mal-estar, Marconi contou a interlocutores que enviou um bilhete durante o discurso de Agripino pedindo que ele poupasse o governo Alcides.
A reportagem do POPULAR, que acompanhou a sessão especial, não viu o senador escrevendo nem alguém entregando o recado ao democrata. Mas Agripino disse logo em seguida ser “amigo de Alcides”, para então defender a união PSDB-DEM nas eleições de 2010 em Goiás. “O Demóstenes (Torres) não veio, que é seu amigo (para Marconi), assim como sou amigo de Alcides, mas reafirma o desejo da cúpula de ver a união de tucanos e democratas aqui.”
O discurso de Agripino, o mais forte na sessão especial, recebeu críticas de pepistas, da oposição e do presidente estadual do DEM, deputado federal Ronaldo Caiado. O líder do PMDB na Assembléia, José Nelto, disse que Agripino foi “deselegante e insensato”. Caiado afirmou que a cúpula nacional não deve interferir na política de Goiás.
Alcides rebateu Agripino na manhã de ontem, durante entrega de equipamentos para a Secretaria da Segurança Pública (leia mais na página 5). O governador disse que o setor é prioritário e voltou a prometer balanço sobre os dois primeiros anos de gestão.
EstremecimentoNos últimos 20 dias, a relação entre PSDB e governo, que já apresentava turbulências desde o início da gestão de Alcides, ficou ainda mais tensa. Os ataques mútuos referem-se a 2010, aos “esqueletos” que o governo afirma ter encontrado no Estado e à proposta de reduzir porcentual constitucional para a Universidade Estadual de Goiás.
No dia 26 de novembro, Alcides reclamou da pressão para se posicionar sobre 2010, apontando “vaidades”, em claro recado ao PSDB. No mesmo dia, falou ainda que a negociação Celg-BNDES não sai por conta de “esqueletos”.
A relação teve mais um abalo com a emenda da UEG. Os tucanos protestaram e ameaçaram votar contra. Em reação, Alcides convidou José Nelto para conversa reservada no Palácio das Esmeraldas. A intenção era buscar apoio do PMDB para deixar de ser refém da bancada tucana. Em três eventos, Alcides fez questão de destacar a boa relação com todos os partidos.
No dia 8, Marconi respondeu as críticas sobre as dificuldades financeiras do governo e prometeu “mostrar a verdade” na campanha de 2010.