É com o olhar desolado que vejo os ônibus especiais e confortáveis circulando vazios em Goiânia. Parece muito claro que os proprietários de veículos automotores se apegam ao individualismo e os pobres não se sentem capazes da prerrogativa do chamado citybus. Mencione-se, ainda, o fato de que a população de Goiânia está bem situada no ranking brasileiro de renda familiar.
Que tamanho é o contraste dessa exclusão da quase maioria das pessoas do acesso a transporte melhor com o que está sendo chamado de farra das passagens no Congresso.
Recuando no tempo, quando a capital da República trocou o Rio por Brasília, houve o consenso de que senadores e deputados federais teriam de ser contemplados com alguma ajuda extra para moradia e transporte. Isso se fez dentro de limites razoáveis. De alguns anos para cá, no entanto, o que podemos chamar de mordomias incluindo passagens aéreas, fretamento de jatinhos, locação de carros e combustíveis, ultrapassou todos os limites do sensato e do correto. Nas últimas semanas, a utilização absurdamente abusiva desses privilégios vem chocando a opinião pública. Nesta semana, por exemplo, soube-se que também ex-parlamentares, às centenas, continuam com direito de voar por conta do povo. Este povo que nem consegue sentar-se na poltrona de um transporte mais confortável.